quinta-feira, 21 de março de 2019

2019, um ano para celebrar Sophia de Mello Breyner Andresen








Sophia cumpre um século de existência a 6 de novembro de 2019. Nasceu no Porto, filha de Maria de Mello Breyner e de João Henrique Andresen, e neta do dinamarquês Jan Andresen, uma família da aristocracia com valores tradicionais. Em Lisboa, esteve ligada aos movimentos universitários católicos enquanto estudava Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, curso que nunca concluiu.
                Poeta ímpar, apresenta uma obra extensa que se desdobra em livros de poesia e prosa, histórias infantis, antologias várias, ensaios e peças de teatro. A grande ausência na sua produção foi apenas o romance.


Poesia
Entre os géneros que Sophia cultivou, foi a poesia aquele que a consagrou como voz  singularíssima na literatura contemporânea. Na sua poesia, encontramos o fascínio pela pureza original e pela agitação cósmica; o feitiço exercido pela água, pelo mundo clássico; o poder da invocação (procurando reconquistar um mundo perdido e quebrado) e da memória que permite tornar presente o distante e o ausente; a palavra como agente da transfiguração da realidade…



Resistente e idealista
Uma ideologia humanista e uma consciência política percorrem também toda a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen: “Tempo de solidão e de incerteza / Tempo de medo e tempo de traição / Tempo de injustiça e de vileza /Tempo de negação.”
Como cidadã, foi uma figura corajosa no combate ao regime salazarista, cujas lutas partilhou com o marido, o jornalista Francisco Sousa Tavares. Ganhou fama a sua Cantata da Paz, adotada como canção de intervenção dos Católicos Progressistas: “Vemos, Ouvimos e Lemos, Não podemos ignorar.” Apoiaria a candidatura de Humberto Delgado e foi fundadora e membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Depois, do 25 de abril, “o dia inicial, inteiro e limpo”, Sophia é eleita deputada à Assembleia Constituinte, pelo PS, onde os seus discursos em prol da cultura deixarão marca: “A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar - para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça.”

Unanimemente reconhecida na sociedade portuguesa, foi agraciada com inúmeros prémios, condecorações e homenagens. Destes, destaca-se O prémio Camões, em 1999, atribuído pela primeira vez a uma mulher.
Eduardo Lourenço afirma que a Sophia de Mello Breyner tem uma sabedoria "mais funda do que o simples saber", que o seu conhecimento íntimo é imenso e a sua reflexão, por mais profunda que seja, está exposta numa simplicidade original.
As comemorações do centenário de Sophia prolongam-se durante todo o ano com o objetivo, segundo a comissão organizadora, de celebrar “a consciência do mundo”, refletida na obra da autora.












Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de julho de 2004, em Lisboa, no Hospital Pulido Valente. O seu corpo foi sepultado no Cemitério de Carnide. Em 20 de fevereiro de 2014, a Assembleia da República decidiu homenagear por unanimidade a poeta com honras de Panteão. A cerimónia de trasladação teve lugar a 2 de julho de 2014.