2019, um ano para
celebrar Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia cumpre um século de existência a 6 de novembro de
2019. Nasceu no Porto, filha de Maria de Mello Breyner e de João Henrique
Andresen, e neta do dinamarquês Jan Andresen, uma família da aristocracia com
valores tradicionais. Em Lisboa, esteve ligada aos movimentos universitários
católicos enquanto estudava Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, curso
que nunca concluiu.
Poeta
ímpar, apresenta uma obra extensa que se desdobra em livros de poesia e prosa,
histórias infantis, antologias várias, ensaios e peças de teatro. A grande
ausência na sua produção foi apenas o romance.
Poesia
Entre os géneros que Sophia cultivou,
foi a poesia aquele que a consagrou como voz
singularíssima na literatura contemporânea. Na sua poesia, encontramos o
fascínio pela pureza original e pela agitação cósmica; o feitiço exercido pela
água, pelo mundo clássico; o poder da invocação (procurando reconquistar um
mundo perdido e quebrado) e da memória que permite tornar presente o distante e
o ausente; a palavra como agente da transfiguração da realidade…
Resistente e idealista
Uma ideologia humanista e uma consciência política
percorrem também toda a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen: “Tempo de
solidão e de incerteza / Tempo de medo e tempo de traição / Tempo de injustiça
e de vileza /Tempo de negação.”
Como cidadã, foi uma figura corajosa no combate ao regime
salazarista, cujas lutas partilhou com o marido, o jornalista Francisco Sousa
Tavares. Ganhou fama a sua Cantata da Paz, adotada como canção de intervenção
dos Católicos Progressistas: “Vemos, Ouvimos e Lemos, Não podemos ignorar.”
Apoiaria a candidatura de Humberto Delgado e foi fundadora e membro da Comissão
Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Depois, do 25 de abril, “o dia
inicial, inteiro e limpo”, Sophia é eleita deputada à Assembleia Constituinte,
pelo PS, onde os seus discursos em prol da cultura deixarão marca: “A cultura
não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar - para que o homem
possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em
justiça.”
Unanimemente reconhecida na sociedade portuguesa, foi
agraciada com inúmeros prémios, condecorações e homenagens. Destes, destaca-se O prémio Camões, em 1999, atribuído
pela primeira vez a uma mulher.
Eduardo Lourenço afirma que a Sophia de Mello Breyner tem
uma sabedoria "mais funda do que o simples saber", que o seu
conhecimento íntimo é imenso e a sua reflexão, por mais profunda que seja, está
exposta numa simplicidade original.
As comemorações do centenário de Sophia prolongam-se
durante todo o ano com o objetivo, segundo a comissão organizadora, de celebrar
“a consciência do mundo”, refletida na obra da autora.