Miguel
Torga
No
dia 17 de Janeiro de 2020 completam-se 25 anos sobre a morte do escritor Miguel
Torga,
Miguel
Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, foi um dos mais influentes poetas
e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e
memoralista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.
Nasceu em S. Martinho de Anta em 1907. Depois
de uma experiência de emigração no Brasil durante a adolescência, cursou
Medicina em Coimbra, onde passou a viver e onde veio a falecer em 1995. Foi
poeta presencista numa primeira fase; a sua obra abordou temas bucólicos, a
angústia da morte, a revolta, temas sociais como a justiça e a liberdade, o
amor, e deixou transparecer uma aliança íntima e permanente entre o homem e a
terra. Estreou-se com Ansiedades,
destacando-se no domínio da poesia com Orfeu
Rebelde, Cântico do Homem,
bem como através de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu Diário; na obra de ficção
distinguimos A Criação do
Mundo, Bichos, Novos Contos da Montanha, entre
outros. O Diário ocupa um lugar de grande relevo na sua
obra. Também como escritor dramático, publicou três obras intituladas Terra Firme, Mar e O Paraíso. Recebeu o Prémio
Camões em 1989 e o prémio Vida Literária (atribuído pela Associação Portuguesa
de Escritores) em 1992.
Requiem por Mim
Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que dele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que dele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.
Coimbra, 10 de Dezembro de 1993
SÚPLICA
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
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