terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Encontro com a escritora Isabel Stilwell

 


No dia 21 de fevereiro, os alunos das turmas 11.º H, 11.º I e 11.º J da Escola Secundária Stuart Carvalhais participaram no encontro marcado com a escritora Isabel Stilwell, autora do romance histórico Inês de Castro, entre outras obras publicadas pelas editoras Livros Horizonte e Planetadelivros.

Este encontro decorreu na biblioteca no âmbito do projeto “Os escritores vão à escola” promovido pela Câmara Municipal de Sintra e envolveu as disciplinas de Português e História, sob a orientação dos professores Paulo Mendes e Augusto Geraldes, respetivamente.

Durante várias semanas, os alunos desenvolveram várias atividades relacionadas com a obra em destaque: a elaboração de um friso cronológico sobre a época referida no romance, a criação de ilustrações pelos alunos da turma de Artes, tendo por base alguns episódios do livro e a redação de cartas ficcionadas e de páginas de diário centradas em D. Pedro e D. Inês, tendo por base capítulos da obra. Os alunos das três turmas envolvidas nesta atividade prepararam ainda várias perguntas para a entrevista à autora, abordando aspetos relacionados com a obra trabalhada e o processo criativo. Foram expostos na biblioteca não só os trabalhos dos alunos, que foram apreciados por todos, desde os próprios alunos, professores, até Isabel Stilwell, como também os seus livros, permitindo a todos o contacto com a sua obra literária.

A sessão foi muito participada, tendo os alunos demostrado entusiasmo e interesse genuínos em ouvir a autora responder às questões preparadas previamente. O encontro terminou com uma sessão de autógrafos da autora.

Este encontro contribuiu certamente para motivar e consolidar o gosto pela leitura e escrita dos nossos alunos. 

A Biblioteca escolar agradece o contributo de todos os envolvidos para o sucesso desta atividade.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Alexandre O'Neil

 


Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões (1924-1986) foi um escritor português oriundo de Lisboa. A sua atividade literária, fortemente associada ao movimento surrealista, é maioritariamente poética. No entanto, a sua obra também inclui livros, guiões de filmes, e a letra do fado “Gaivota”. Apesar da sua versatilidade criativa, evidenciada pela diversidade das tipologias de obras de sua autoria, O’Neil nunca conseguiu viver da sua produção literária, embora os vários empregos que teve ao longo da vida se tenham relacionado com a escrita.

Tendo sido um opositor ao regime do Estado Novo, foi vigiado pela PIDE durante uma porção significativa da sua vida, e chegou inclusivamente a estar preso. A sua obra não foi estanque às suas desavenças com o estado, sendo o poema “Um Adeus Português” um comentário sobre um incidente com a PIDE.

As suas obras incluem títulos como: A Ampola Miraculosa (1948), No Reino da Dinamarca (1958), Feira Cabisbaixa (1965), De Ombro na Ombreira (1969), A Saca de Orelhas (1979), e Uma Coisa de Forma Assim (1980).

 

UM ADEUS PORTUGUÊS

Nos teus olhos altamente perigosos

vigora ainda o mais rigoroso amor

a luz de ombros puros e a sombra

de uma angústia já purificada

 

Não tu não podias ficar presa comigo

à roda em que apodreço

apodrecemos

a esta pata ensanguentada que vacila

quase medita

e avança mugindo pelo túnel

de uma velha dor

 

Não podias ficar nesta cadeira

onde passo o dia burocrático

o dia a dia da miséria

que sobe aos olhos vem às mãos

aos sorrisos

ao amor mal soletrado

à estupidez ao desespero sem boca

ao medo perfilado

à alegria sonâmbula à vírgula maníaca

do modo funcionário de viver

 

Não podias ficar nesta cama comigo

em trânsito mortal até ao dia sórdido

canino

policial

até ao dia que não vem da promessa

puríssima da madrugada

mas da miséria de uma noite gerada

por um dia igual

 

Não podias ficar presa comigo

à pequena dor que cada um de nós

traz docemente pela mão

a esta pequena dor à portuguesa

tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces

esta roda de náusea em que giramos

até à idiotia

esta pequena morte

e o seu minucioso e porco ritual

esta nossa razão absurda de ser

 

Não tu és da cidade aventureira

da cidade onde o amor encontra as suas ruas

e o cemitério ardente

da sua morte

tu és da cidade onde vives por um fio

de puro acaso

onde morres ou vives não de asfixia

mas às mãos de uma aventura de um comércio puro

sem a moeda falsa do bem e do mal

 

Nesta curva tão terna e lancinante

que vai ser que já é o teu desaparecimento

digo-te adeus

e como um adolescente

tropeço de ternura

por ti.