segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 de junho 2013

Senhor, falta cumprir-se Portugal.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.
F. Pessoa
Portugal, um país mais resignado, envelhecido...



É o retrato de um país com um número avassalador de idosos – mais de dois milhões –, muitos dos quais a viver sozinhos e a sobreviver com uma pensão inferior ao salário mínimo nacional. Um país onde o rendimento médio das famílias (a preços constantes) baixou para 27.811 euros no ano passado, quase menos mil euros do que em 2011, e onde o número de pensionistas com reformas inferiores ao salário mínimo nacional está perto dos 1,5 milhões.
São "números que contam a nossa história mais recente" os que aparecem compilados no último "Retrato de Portugal", o terceiro do género traçado pela base de dados Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e que acaba de ser divulgado. 

Nevoeiro
 
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora! 
F. Pessoa