terça-feira, 24 de maio de 2016

Ferreira de Castro

José Maria Ferreira de Castro



José Maria Ferreira de Castro nasceu no lugar de Salgueiros, concelho de Oliveira de Azeméis, a 24 de Maio de 1898.
Aos 12 anos, emigrou para o Brasil, tendo vivido e trabalhado durante quatro anos em plena selva amazónica, no seringal Paraíso. Viveu em precárias condições, tendo de recorrer a trabalhos como colador de cartazes e embarcadiço em navios do Amazonas. Esta experiência serviria de base para o seu mais famoso romance A Selva. Também colaborou na imprensa, tendo fundado o jornal Portugal.
Regressou a Lisboa em 1919 e, para além de ter sido redator e diretor de jornais e revistas, continuou a escrever livros nos quais está patente a intervenção social e ideológica.
Em 1928, ao publicar o romance Emigrantes, conheceu grande êxito em Portugal e no estrangeiro. Dois anos depois, com A Selva, conhece momentos de verdadeira glória.
O seu nome foi sugerido para Prémio Nobel da Literatura e, em 1970, a sua obra foi reconhecida com o prémio Águia de Ouro Internacional.
As suas obras estão publicadas em dezenas de países e, durante muito tempo, foi mesmo o nosso escritor mais traduzido. Ofereceu o seu espólio ao povo de Sintra e hoje existe, na vila velha, um museu em sua memória.
Ferreira de Castro faleceu no Porto em 1974, mas tendo escrito a maior parte da sua obra em Sintra "desejaria ficar ali para sempre" na serra, "onde as ervas rasteiras vivessem livremente". Ali está o seu túmulo, quase despercebido para quem sobe a serra a caminho do Castelo dos Mouros, escondido pelas árvores. Os limos rasgaram a campa onde mal se lê: "Ferreira de Castro, Escritor (1898-1974)". E assim mesmo o desenhou: "Um bloco de granito cavado em forma de banco, voltado para a vereda; um banco onde pudesse descansar quem por ali subisse ao castelo ou andasse, em erradios passos, comungando com a poesia de Sintra."



Emigrantes, de José Maria Ferreira de Castro


O livro aborda a temática da emigração portuguesa no Brasil no início do século XX. O Portugal dessa época é um país pobre e pouco desenvolvido. Para fugirem às precárias condições de vida, muitas pessoas emigraram para vários países, nomeadamente para o Brasil. É o caso de Manuel da Bouça, personagem que acompanhamos do princípio ao fim do romance, que se separa da família, hipoteca os poucos bens que possui e parte com o objetivo de alcançar uma vida melhor.

 Em Emigrantes, o autor mostra com dureza e realismo as condições de vida dos emigrantes portugueses no Brasil. Apresenta com grande humanismo as ideias essenciais, questionando ao longo de toda a obra o sentido de justiça do mundo em que vive.

“A sua alegria desvanecera-se e agora, volvido de novo para o cais, ao ver os últimos emigrantes desembarcados, que caminhavam, trôpegos e miseráveis, entre as mulheres e os filhos, apiedava-se deles. «Aqueles diabos imaginavam que para se enriquecer bastava ir por aí fora, com ganas de trabalhar. Ele também pensara assim, mas depois é que vira. Bem lhe diziam o Hermenegildo e o Fernandes que só com o seu trabalho um homem não enriquecia. Se não fosse isso, ele estaria podre de rico… Mas qual! Nem os ricos iam deixar que todos enriquecessem, senão – claro! – não tinham quem lhes fizesse as coisas de que eles precisavam…” 
“Há cada ricaço que é de a gente lhe tirar o chapéu! Que ricos há os em toda a parte. Também os há aqui e bem pertinho. O que eu queria é que não houvesse pobres.”