terça-feira, 5 de novembro de 2013

" O estrangeiro" ,de Albert Camus


”O Estrangeiro”, de Albert Camus

L'Étranger (em português O estrangeiro) é o mais famoso romance do escritor Albert Camus. A obra foi lançada em 1942, tendo sido traduzida em mais de quarenta línguas e recebido uma adaptação cinematográfica realizada porLuchino Visconti em 1967.Uma obra que marca a literatura do séc. XX e o pensamento de quem a lê. Decide-se aqui o destino de um homem que matou outro. Por causa do sol. Não há perdão nem arrependimento, só o absurdo.
Faz parte do "ciclo do absurdo" de Camus, trilogia composta de um romance (L'Étranger), um ensaio (Le mythe de Sisyphe - O mito de Sísifo) e de uma peça de teatro(Calígula) que descrevem o aspecto fundamental de sua filosofia : o absurdo. O romance foi traduzido em quarenta línguas e uma adaptação cinematográfica foi realizada por Luchino Visconti em 1967.

 

Mersault recebe a notícia da morte da mãe através de um telegrama: “Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.” Fica-lhe a dúvida se terá morrido naquele dia ou na véspera. Imediatamente nos dá conta de que pediu dois dias ao patrão e de que à má cara deste respondeu: “A culpa não é minha.”

O protagonista passa logo às questões práticas: pedir emprestados uma gravata preta e um fumo, almoçar e dirigir-se ao autocarro que o levará ao asilo onde a mãe residia. Dormiu durante quase toda a viagem. “Por agora, é um pouco como se a mãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial”, pensou, antes de viajar.

Um primeiro contacto desconcertante com uma personagem que nos irá perturbar até ao fim do livro. E para além dele

Completamente exterior às convenções e à moral vigentes, Mersault é um verdadeiro “estrangeiro” em qualquer organização social ou familiar. Cometerá um homicídio sem razão aparente que não a do calor excessivo na praia ou a da forte luz do sol que sobre ele incidia directamente quando disparou. Mersault não tem justificação para o crime nem para o resto. Nada do que faz é para ser explicado. Eis o absurdo da sua existência ou de qualquer outra.

Albert Camus (Nobel da Literatura em 1957) apresenta-nos assim uma personagem estranha, demasiado estranha até para si mesma. Porém, não se consegue deixar de gostar dela e desejar defendê-la quando todos a acusam e condenam. Mas não podemos, as nossas regras não são as dele. Para ele, tudo é permitido — “visto que Deus não existe e visto que se morre”.

O protagonista será julgado e condenado. Fica a dúvida se Mersault é sujeito à guilhotina pelo crime cometido ou por não ter chorado no funeral da mãe, por ter ido logo depois até à praia nadar, ter visto um filme cómico e ter feito amor com uma namorada recente. Não fez o que dele se esperava, essa é a sua grande culpa.

Centenário de Albert Camus - um visionário com o futuro interrompido

Camus, o mal-amado




Cem anos após o seu nascimento, em 7 de novembro de 1913, Albert Camus continua a ser um ícone da literatura francesa e mundial por seu pensamento visionário, sua sede de justiça e seu caminho excepcional. Hoje quase esquecido e pouco lido lutou contra todas as formas de totalitarismo e contribuiu com os seus romances, ensaios e peças de teatro para iluminar a condição humana num tempo de trevas morais.
Dos bairros operários de Argel ao prémio Nobel de Literatura aos 44 anos, este destino fora do comum foi tragicamente interrompido aos 46 anos por um acidente de carro em pleno centro da França, em 4 de janeiro de 1960.
Camus nasceu no bairro desfavorecido de Belcourt, em Argel. O pai, meio argelino, meio francês, foi morto na batalha de Marne, na 1ª Grande Guerra. A mãe, meio surda-muda, meio espanhola, era analfabeta e mal conseguia o sustento para o filho como criada. Camus cedo se revelou um estudante exemplar, ao receber, em 1924, uma bolsa de estudos para o Liceu de Argel. Aí permaneceu até 1932, fazendo parte das actividades atléticas escolares, que acabou por interromper ao contrair tuberculose inócua que lhe deixou mazelas para toda a vida.
A partir de 1935 ocupou vários postos de trabalho na capital e, depois de se filiar no Partido Comunista, conseguiu licenciar-se em Filosofia pela Universidade de Argel, em 1936. Partiu então pela primeira vez rumo à Europa, na esperança de melhorar a sua condição pulmonar, agravada pelos sopros arenosos e abrasadores do deserto do Sara.
Em 1937 publicou o seu primeiro livro, uma colectânea de ensaios com o título L'Envers Et L'Endroit (O Avesso e o Direito). No ano seguinte passou a trabalhar como jornalista no Alger Républicain, chegando a fazer uma reportagem detalhada sobre a condição dos muçulmanos da região de Cábila, que lhe valeu as atenções do público e das autoridades governamentais.
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, Camus publicou Noces (1939), uma colectânea de ensaios que reflectiam o estado de espírito consequente ao seu divórcio de Simone Hié, morfinómana com quem havia casado alguns anos antes.
Juntou-se ao movimento da Resistência Francesa e, em 1942, publicou um dos seus romances mais conhecidos, L'Étranger (O Estrangeiro), obra que havia começado a compor na Argélia antes do começo da guerra, e que dava início ao estudo do absurdo, constante no seu trabalho, e que representava a prova aparente, segundo Camus, da não existência de Deus. Também em 1942 apareceu o ensaio filosófico Le Mythe de Sisyphe: Essai Sur L'Absurde (O Mito de Sísifo), em que ajuntava o conceito do suicídio ao marasmo do absurdo (termo que havia de caracterizar a problemática existencial de toda uma geração de autores e pensadores) da vida.
Em 1943, juntamente com Jean-Paul Sartre, fundou o jornal de esquerda Combat, de que foi editor até 1947, ano em que publicou o seu terceiro romance, com o título La Peste (A Peste), uma alegoria à ocupação da França pelos Nacional-Socialistas em que os comportamentos humanos em situações extremas são cuidadosamente analisados. Rompendo pouco tempo depois com Jean-Paul Sartre, líder da corrente existencialista, Camus publicou L'Homme Revolté (1951, O Homem Revoltado), colectânea de ensaios dedicados à génese histórica do Ateísmo. La Chute (1956, A Queda) retoma pela narrativa a problemática da justiça humana, sempre em torno da célebre frase de Dostoievski: " Se Deus não existisse, tudo seria permitido".
Com cerca de oito milhões de exemplares vendidos, "O Estrangeiro", seu primeiro romance publicado em 1942 e traduzido em mais de quarenta línguas, é seu best-seller absoluto.

"A peste" vendeu quatro milhões de exemplares e as vendas de todos os seus livros publicados aumentaram em 4,5% entre 2008 e 2012, segundo a editora do escritor, Gallimard, que considera ser ele "certamente o escritor francês do século XX mais conhecido, mais citado e mais traduzido no exterior", com uma obra composta por mais de 30 publicações, incluindo peças teatrais.