quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Centenário de Eugénio de Andrade

 

Eugénio de Andrade ( 1923-2005)



A 19 de janeiro assinalam-se os 100 anos do nascimento de Eugénio de Andrade, poeta maior da língua portuguesa. Para homenagear o poeta, estão previstas várias iniciativas que irão decorrer ao longo do ano, como, um colóquio internacional, congressos, exposições, concertos e leituras. 

Nascido em 19 de janeiro de 1923, no Fundão, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, morreu no Porto em 13 de junho de 2005, aos 82 anos. Foi aqui que passou mais de metade da sua vida e foi também a Invicta que inspirou muitas das suas obras.

Em 1942, já sob o pseudónimo de Eugénio de Andrade, publicou Adolescente. A sua consagração acontece mais tarde, em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma «poesia do corpo a que chega mediante uma depuração contínua».

Deixou um legado de mais de cinquenta anos de obra poética e criativa, tendo acumulado inúmeras distinções, incluindo o Prémio Camões, e publicado traduções para diversas línguas.

Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).

Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).



As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?