quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


O Destino do Capitão Blanc, de Sérgio Luís de Carvalho

Na 11ª hora do 11º dia do 11º mês do ano de 1918, a escassos minutos do fim da Primeira Guerra Mundial, tem lugar, no Nordeste de França, um dos mais estranhos e inexplicáveis massacres de todo o conflito. O capitão português Luís D'Orey Blanc é testemunha e, de algum modo, vítima desse massacre. Enviado meses antes a França pelo próprio Sidónio Pais, no que era suposto ser uma mera missão político-militar, Blanc depressa se vê envolvido numa espiral de morte, de ajuste de contas, de memórias e de arrebatadoras paixões que vão para sempre mudar a sua vida. Rigorosamente baseado em factos reais, este romance retrata a árdua vida nas trincheiras, as batalhas, as revoltas e o quotidiano dos homens em luta, bem como o sofrimento das mulheres e as esperanças perdidas de toda uma geração, entre a guerra e o amor.

Neste romance, o leitor acompanha cerca de quatro meses da vida da personagem Luís Blanc (se exceptuarmos as indicações sobre o seu passado, dadas por analepse), ocorridos entre o início de Agosto e o final de Novembro de 1918, em torno de uma missão para que o militar foi destacado na Flandres onde o Corpo Expedicionário Português (CEP) participava na guerra de trincheiras.
É curioso que o sentido de missão, bem como a história desta personagem, se vão alicerçar sobre o momento em que o CEP já perdera alguma da sua identidade.

É um romance de desgosto e de decepção, com um final difícil de prever, mesmo na história de amor em que os apelidos Blanc (dele) e White (dela) pareciam prognosticar um final feliz pela coincidência dos apelidos.
Profundo é o que fica da experiência de guerra. E vale a pena lembrar episódios como o da destruição em Mont Sec, o da associação entre os amotinados e os “cães lazarentos”, o da morte que espera um herói vestido com a “farda principal, cheia de alamares e de dourados, de dragonas e distinções” a pouco mais de uma hora do fim da guerra ou a reflexão sobre o que ficaria do que foi aquela experiência logo que um filho perguntasse a um dos combatentes algo como “pai, o que é que fizeste na Grande Guerra?”
É o absurdo da guerra.
Tudo passando neste romance, eivado de ironia, efeito que é muito ajudado pelos comentários entre parênteses que entremeiam alguns parágrafos, ora como extensões do narrador ou das personagens, ora suscitando no leitor a vontade de acompanhar a reflexão.

Sem comentários:

Enviar um comentário