quinta-feira, 16 de abril de 2020


Homenagem a Luís Sepúlveda ( 4 de outubro de 1949- 16 de abril de 2020)

Morreu, aos 70 anos, Luis Sepúlveda, vítima de infeção pelo novo coronavírus. Deixa uma vasta obra literária, um autêntico “exercício de memória”, onde a fábula, melhor género para conhecer o ser humano “à distância”, como dizia, se convertia num pretexto para se debruçar sobre as personagens que foi conhecendo ao longo da vida. Porque a escrita não fazia parte de uma terapia para curar feridas do passado. A escrita era sempre parte do presente do autor.
Nascido em 1949, numa pequena vila chamada Ovalle, no Chile, envolveu-se na política muito novo, ainda na faculdade. Antes veio o teatro, ou a produção teatral, na Universidade Nacional do Chile. Um género que iria marcar muito da sua vida antes de se tornar um autor mundialmente famoso. Aos 16 anos decide ler Moby Dick, de Herman Melville. É com esse livro que desperta uma dúvida que iria levá-lo até ao género da fábula, ao reino animal, esse “convite à literatura”.
É no Equador que descobre a sua próxima grande jornada: uma expedição da UNESCO para acompanhar os índios shuar, com quem viveu sete meses, numa região da Amazónia, que “fracassou ao fim de 12 semanas na selva”. Mas que, por persistência ou por curiosidade, lhe deu a conhecer uma “outra maneira de entender a vida e a morte — sem medo”, como confessa em entrevista ao Observador. E é dessa experiência que nasce O Velho que lia romances de amor (1989). E é também aí que começa uma das grandes marcas na escrita de Sepúlveda: a preocupação ambiental, aliada a um sentimento de justiça e luta pela igualdade. 

Em 1982 ruma a Hamburgo movido pela sua paixão pela literatura alemã e aí se torna repórter.Mas a preocupação ambiental falou mais alto e Sepúlveda decide juntar-se à Greenpeace, tendo participado numa das maiores ações da organização, quando bloquearam o porto japonês de Yokohama, durante dois meses, para lutar contra a caça da baleia. Dessa experiência sai o livro Mundo Do Fim Do Mundo, uma homenagem aos voluntários da Greenpeace, onde o protagonista tem uma história muito semelhante ao autor.

Da sua vasta obra - toda ela traduzida em Portugal - , destacam-se os romances O Velho que Lia Romances de Amor, História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar e História de um Caracol Que Descobriu a Inportância da Lentidão (2016). Mas todos os seus livros conqustaram em todo o mundo a admiração de milhões de leitores.

Em 2016 recebeu o Prémio Eduardo Lourenço - que visa galardoar personalidades ou instituições com intervenção relavante no âmbito da cooperação e da cultura ibérica - , uma honra que definiu como " uma emoção muito especial".

Para além de romancista, foi realizador, roteirista, jornalista e ativista político. Em 1970 venceu o Prémio Casa das Américas pelo seu primeiro livro, Crónicas de Pedro Nadie, e também uma bolsa de estudo de cinco anos na Universidade Lomonosov de Moscovo.

Luís Sepúlveda vendeu mais de 18 milhões de exemplares em todo o mundo e as suas obras estão traduzidas em mais de 60 idiomas.


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