segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ó Cesário Verde, ó Mestre!

Cesário Verde


(...)Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas...(...)



A PESTE

…a Febre / E o Cólera também andaram na cidade


José Anastácio Verde tem uma loja de ferragens na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa. É, igualmente, dono de uma quinta em Linda-a-Pastora. Em 1852 casa com Maria da Piedade dos Santos. O casal vai morar num prédio na Rua da Padaria, próximo da velha Sé de Lisboa. Em 1853, nasce Maria Julia, a primogénita. Em 1855, o segundo filho, José Joaquim CESÁRIO. E, no ano seguinte, Adelaide Eugénia, menina que morrerá tuberculosa. Em 1858, Joaquim Tomás, o quarto filho. E, finalmente, em 1862, Jorge, o quinto e último filho.
Próximo da Rua da Padaria há um arco escuro onde se acumulam excrementos e cabeças de peixe. A Baixa de Lisboa é toda assim, não lhe faltam focos de infecção em becos e vielas. No Verão de 1857, surge a febre amarela, que ceifa a vida dos lisboetas. A família decide abandonar a capital e refugia-se na quinta de Linda-a-Pastora.

Cesário recorda a fuga:

(...)Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tantos nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:

O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga.(...)

Sem canalizações, em muitos burgos ermos,
Secavam dejecções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!

Uma iluminação a azeite de purgueira,
E noite, amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons d’inferno outros arruamentos.(...)

E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para lá; somos provincianos,
Desde o calor de Maio aos frios de Novembro!

Poemas:

- “Bairro Moderno”;“Contrariedades”; “O sentimento dum Ocidental”; “Cristalizações”; “Nós”; “De Tarde”; “Em Petiz”; “Deslumbramentos”; “Vaidosa”; “Esplêndida”; “Frígida”; “A Débil”.

A 19 de Julho, Jorge, o último dos irmãos, pergunta a Cesário:
“- Queres alguma coisa?
- Não quero nada. Deixa-me dormir. “


São as últimas palavras do poeta.

No ano seguinte, o seu amigo, Silva Pinto, edita O LIVRO DE CESÁRIO VERDE. Contém 37 poemas, cento e muitas páginas, contando a primeira edição com 200 exemplares.

Sem comentários:

Enviar um comentário