terça-feira, 7 de abril de 2009

O ESCRITOR VEM À ESCOLA



No dia 10 de Março, veio à nossa escola, o escritor Augusto Carlos.

Foi um final de tarde muito agradável, em que o escritor interagiu com os alunos. A palestra foi particularmente importante, pois, mostrou-nos um escritor, calmo e sereno, preocupado em relatar nos seus livros a sua infância e experiência de vida, sempre numa perspectiva pedagógica, salientando que gosta de fazer bem aos outros, como de si próprio se tratasse.

Lições de vida de Vovô Tsongonhana

A Liberdade

…eu queria ser livre! E quando um homem quer ser livre, quem o poderá prender? A sua mente é do tamanho do Universo, vai até onde quiser… /…/
A liberdade é pôr a cabeça a pensar e eu pensei assim: “Tsogonhana, tu já trabalhaste que nem um cão! Contudo ainda continuas amarrado com uma trela. Descobre o que é essa trela que te amarra…”
Aí tudo ficou muito claro para mim: estavam a fazer comigo o que se faz ao burro, quando queremos que ele puxe a carroça. Prendemos uma cenoura numa vara e colocamos a dita à frente do seu focinho, mas nunca deixamos que este toque na cenoura… Assim ele continua a andar… a andar… Mesmo cansado, continuará a andar…
Como fazer para comer a cenoura?
A resposta é não querer comer aquela cenoura! Não vamos morrer por causa de cenouras como aquela. Vamos descobrir as nossas próprias cenouras… E comê-las calmamente.
Como descobrir as nossas próprias cenouras?
Deves recorrer à tua mente (ela é do tamanho do universo), às tuas capacidades, aos teus conhecimentos, seguir os ensinamentos e proceder às aprendizagens que conduzem à liberdade…
Aprendeste a fazer as tuas obras (estatuetas) e vais vendê-las, com esse dinheiro, estás a alimentar-te e a vestir-te. Não dependes de ninguém. Depois podes ir caçar, pescar trabalhar no campo, usufruir da natureza… Essas são as tuas cenouras, a tua liberdade…

As meias verdades ou mentiras

Tens visto o avô ler o jornal, ouvir as notícias. /…/
Há uma coisa muito importante: há os fazedores de notícias…
- Fazedores de notícias, avô?
- Sim, meu neto!
É preciso estarmos atentos, saber ler os jornais, ouvir as notícias e distinguir a diferença entre a verdade e aquilo que a alguém interessa que nós acreditemos ser a verdade. Por vezes, há as meias verdades e até as mentiras – depende dos interesses envolvidos…

O sonho

…é bonito ver o Homem juntar-se para defender os interesses do grupo. O mundo é só um. Quando o meu sonho se realizar, seremos todos cidadãos do mesmo país que é este pequeno mundo! Nesse país global fará sentido falar de liberdade para cada cidadão. Aí, cada um se sentirá defendido para poder dar largas à sua realização como homem ou mulher…
…chegaria finalmente o tempo em que o homem veria a solidariedade como um sentimento natural…Haveria carinho, lar, família, comida, educação… Todos teriam hipótese de se realizarem como seres humanos…

A esperança

Eu haveria de estar descansado, se o homem já tivesse amadurecido, se pensasse no bem-estar dos outros, que todos temos família e que gostamos de lhe dar boas condições, que as coisas devem servir o homem e este não deve ser escravo das coisas…
… a solução mais simples era defender os interesses de todos, colocar a pessoa acima do lucro, colocar a máquina ao serviço do homem, para que este pudesse ser mais livre e pudesse ser um ser humano.
Em resumo: a democracia deveria proporcionar o império do amor e da solidariedade…
Mas tenho esperanças e medos. Vejo que as palavras bonitas dos políticos não correspondem aos factos…usam as palavras como lhes convém…e o povo continua sem perceber… Esse povo tem cada vez menos dinheiro, esse povo tem de se desenrascar, comendo coisas mais baratas, tenta matar a fome e está a dar cabo da saúde. Ainda são novos e já estão doentes, não se apercebem que estão a engordar, tão novos, mas já doentes…Passam a ser puros consumidores… Mas como não querem pensar, continuam felizes, achando-se livres...
FL

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